Ansiosa, ela andava de um lado para o outro no quarto do hotel. Estava pronta para o grande dia de sua vida. Os seis anos de namoro não haviam sido tão longos quanto seus últimos momentos de solteirice.
Os convidados foram alertados sobre a pontualidade dela, pelo menos os mais próximos. Preocupava-se com o conforto de cada um deles na pequena igreja no alto do Outeiro da Glória. Era final de primavera no Rio de Janeiro. Não demoraria para que o santuário se convertesse em uma insuportável estufa, apesar da cerimônia ser às sete horas da noite.
Chegou ao local no horário planejado. Acompanhada de sua mãe, ainda de dentro do carro, foi informada de que a avó paterna estava atrasada. Não havia o que fazer; precisava aguardar. Afinal, a senhora viera de longe para testemunhar a última das netas atravessar o corredor central da igreja e proferir o aclamado “sim”, diante de toda aquela gente.
A mãe prontamente iniciou o rotineiro discurso “sografóbico”, mas a noiva, como sempre, preferiu ignorar. Acostumara-se a ele. Ao contrário, ocupou-se em observar a movimentação diante da igreja, quando, de longe, avistou convidados remanescentes buscando um mísero sopro de brisa fresca antes de ingressar.
Meia hora mais tarde, precisou tomar uma difícil decisão: aguardar a chegada da avó ou iniciar a cerimônia. Optou pela segunda.
Enquanto os noivos trocavam as alianças, foram informados pelo sacerdote sobre a entrada da anciã, que havia chegado ao menos para o beijo final. Contentes e emocionados, os noivos foram ovacionados na saída da igreja enquanto atravessavam a benquista chuva de arroz.
A festa havia sido organizada em um local longe o suficiente para que o deslocamento dos convidados fosse feito de carro, mas perto o bastante para obrigar os noivos a darem algumas voltas, evitando serem os primeiros a chegar. Foi essa a razão que desinibiu a sogra da noiva a pedir um inusitado favor:
“Já que precisam fazer uma horinha antes da festa, por que não levam o padre em casa? Assim, eles evitam ter que chamar um táxi a essa hora da noite.”
Eles? A noiva pensou.
Foi nesse momento que ela teve o primeiro contato com a nova faceta da mulher, velada durante os anos de convívio. Arrependeu-se de nunca, nunquinha, ter prestado atenção nas queixas que, insistentemente, a mãe fazia da própria sogra.
Antes que pudessem contestar, os novos já dividiam o assento traseiro do veículo com a secretária do sacerdote, enquanto ele, no banco carona à frente, trocava meia dúzia de palavras com um motorista sisudo, possivelmente frustrado por terem lhe roubado a chance de degustar pelo espelho retrovisor os amassos de um casal apaixonado.
Durante a festa, foi a vez do noivo descobrir uma nova identidade de sua sogra. Em um momento de descontração, enquanto dançavam, foi surpreendido pela pior versão da mulher que conduzida a valsa. Ela, sustentando um sorriso dissimulado nos lábios, lhe disse:
“Se um dia você fizer mal à minha filha, vou lhe caçar no quinto dos infernos”, — finalizando a advertência com uma longa e maléfica gargalhada.
Ao final da festa, com sentimentos paradoxais, os noivos ainda viveram uma última experiência ao dar carona para ambas as sogras. Sentadas lado a lado no banco traseiro do veículo, as duas cantavam alegremente. A sogra dele, divorciada, usava o véu da noiva. A sogra dela, viúva, segurava o buquê de flores que havia agarrado na festa. E às três horas da manhã, elas gritavam pelas janelas escancaradas:
“Somos as próximas, somos as próximas!”
Hoje, dia 13 de novembro, eu e meu marido celebramos 24 anos de casados. Sobre o texto acima, qualquer semelhança não é mera coincidência, salvo alguns pequenos detalhes, pontualmente exacerbados, para tornar a dramatização ainda mais divertida.
Eu sou Luciana de Gnone, autora de ficção policial. Tenho seis livros publicados, todos protagonizados por mulheres.
E a Tia do Noivo, recebendo abraços calorosos na porta da igreja após ãã cerimônia, perdeu um brinco que era de sua mãe! Percebeu já quase na festa e fez o marido e os sogros voltarem com ela até a porta da igreja! E como a energia era boa, achou o brinco caido entre dois paralelepipedos! Ate hoje não sei como enxerguei! FELIZ 24!!!!
Adorei Lu. Morri de rir. Restou uma curiosidade. as duas "futuras noivas" ás três da manhã, casaram-se novamente? kkkkk